MERITOCRACIA, CONSUMO E A FALTA
- Marcos Paim
- 29 de ago. de 2018
- 2 min de leitura

O modelo de mercado competitivo e globalizado, pressionou empresas à busca de competitividade e diferenciais a fim de manter sua posição, vis-à-vis novos competidores vindos de além mar. Neste cenário, perseguindo a alta performance que asseguraria sua sobrevivência, boa parte das companhias adotaram modelos de gestão baseados na meritocracia, estimulando a competição entre seus colaboradores e premiando resultados diferenciados.
Rapidamente o modelo transformou-se em uma verdade corporativa, proclamada e ratificada por analistas e gurus da administração. Empresas não aderentes foram taxadas de arcaicas ou pouco competitivas, sendo pressionadas à mudança ou perdendo valor.
A vitória desta técnica baseada na lógica de mercado, perante outros sistemas e utopias, institucionalizou o conceito onde segundo bases “iguais”, os resultados obtidos definem e justificam os vencedores. A responsabilidade da vitória não deve ser distribuída, mas ranqueada e com a distinção clara entre vencedores e perdedores. Os eleitos tem sua diferenciação autorizada, já que a mesma é considerada fruto do seu talento e esforço superiores aos demais.
Neste cenário, o mercado de consumo também transforma-se e o produto
deixa de ser mera ferramenta utilitária e transveste-se como troféu de premiação a vencedores, consolo ou instrumento de disfarce para derrotados. Certificados pelos resultados premiados na meritocracia e julgados pelo seu talento e esforço “comprovados”, os vencedores estão liberados a exibir seus troféus.
O produto se veste de ferramentas de design e conceito, onde sua simbologia ultrapassa em larga escala sua funcionalidade mecânica. Consumidores são chamados de fãs, obtendo pertencimento e lugar, chegando aos limites da idolatria à marca.
Mesmo institucionalizado, o modelo expõe suas vulnerabilidades. O produto como combustível narcísico ou analgésico à falta é precário, portanto não se sustenta e faz-se necessária a repetição. Este ciclo de consumo repetitivo atende às métricas de crescimento corporativo, fundamentais à sobrevivência do modelo meritocrático, estendendo sua validade ao limite.
À repetição, o produto se renova, a obsolescência programada pare novas versões que tiram o valor simbólico da versão anterior e forçam sua substituição. Mesmo sem sustentação possível, o ciclo se repete à exaustão.
Este circuito de disfarces aparentemente sem fim, é realimentado continuamente pela lógica mercantilista, que movimenta objetos e sujeitos conforme suas leis de oferta e demanda. No entanto, tanto vitoriosos quanto perdedores, tal qual faces de uma mesma moeda, não passam impunes e pagam o preço por figurar neste jogo sem perceber.
Sem perceber?
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