“PERTO DAS TREVAS" de William Styron: A Depressão em Testemunho Literário e sob uma Conversa Lacania
- Marcos Paim
- 25 de jan. de 2023
- 34 min de leitura

Texto publicado como Capítulo 8 no livro: "Perto das Trevas: a depressão em seis perspectivas psicanalíticas", publicado pela Editora Blucher em 2022.
Disponível em: https://www.blucher.com.br/perto-das-trevas_9786555061307
Autores:
Marcos Paim C. Fonteles[i]
Rosângela de Faria Correia[ii]
“Talvez eu mude um pouco à medida que envelhecer, mas me parece que a vida é uma longa depressão cinza interrompida por momentos de grande hilaridade.”[iii]
William Styron aos 28 anos.
Antes de tudo cabe ressaltar que este texto não tem a ambição ou o objetivo de ‘psicanalisar’ o autor, seu livro ou biografia, tal como seria uma psicanálise ‘aplicada’. Não há psicanálise sem clínica: psicanalista, analisante, transferência, associação livre e escuta flutuante; ela se debruça no caso a caso em que a transferência abre espaço e dá voz à estrutura singular de cada um. “A clínica psicanalítica questiona a maneira particular como cada sujeito, pelos efeitos depressivos que sofre” (SKRIABINE, 2006, p. 3). Portanto, este texto trata-se somente de um arranjo de hipóteses ficcionais, para um exercício acadêmico e reflexivo sobre a teoria psicanalítica.
O relato de uma depressão
A depressão como fenômeno clínico é estudada há muito tempo, mas especialmente a partir da década de oitenta e noventa do século passado tem atraído mais leituras e diagnósticos diferenciais. Mesmo assim, ainda é comum no linguajar popular a confusão entre melancolia, depressão, luto e tristeza; situações com sintomas aparentemente parecidos, ao olhar leigo, mas de estruturas clínicas bastante diferentes. Para fins de classificação e definição do escopo teórico deste texto, aqui iremos tratar de um ‘caso’ específico de depressão.
Optamos por enquadrá-lo em um fenômeno depressivo como o próprio William Styron se auto classifica no seu livro Perto das Trevas[iv], objeto deste estudo. No entanto, por conta de algumas passagens de seu texto especialmente em cenas onde há uma clara desvalorização do seu próprio Eu[v], poderíamos ensaiar uma hipótese de um ‘caso’ melancólico, de constituição clínica mais regressiva que a depressão, onde o Eu teria ‘falhado’ em estabelecer-se por conta de um chamado à vida precário ou mesmo inexistente[vi].
Descartando-se esta hipótese, simplesmente para fins de uma limitação de escopo desta pesquisa teórica, seguimos tratando esta simulação ‘clínica’ com um olhar investigativo de pistas, que de alguma forma pudessem suportar uma hipótese de um ‘caso’ depressivo.
Os estados depressivos são acompanhados por um retraimento da ‘vontade’ em que o sujeito assume uma posição de desesperança, pouco investimento nas relações e uma recusa diante dos desafios da vida cotidiana. No entanto, não existe “depressão no singular, como não existe a dor no singular; porém a depressão, enquanto tal, não constitui por si só, para a doutrina psicanalítica, nenhum tipo de nosologia determinada”. (TEIXEIRA, 2008, p. 28).
O autor W. Styron descreve de maneira clara seu sofrimento e o quanto sentia-se fragilizado: “o desalento me invadia com uma sensação de medo e alheamento e, acima de tudo, uma angústia sufocante” (STYRON, 1990, p. 19). Desesperança, desalento e recuo diante das relações, quando a angústia parecia tomar uma dimensão importante e Styron nos apresenta um significativo sentimento de “estar perdido”.
Recorremos a Lacan sobre o aparecimento da angústia, que “surge a cada vez que o sujeito é, por menos sensivelmente que seja, deslocado de sua existência” (LACAN, 1995 [1957], p. 231). Citamos Styron ao relatar sua experiência em Paris, à época do recebimento de um prêmio como escritor: “A dor persistiu durante a visita ao museu e atingiu um crescendo nas horas seguintes quando, de volta ao hotel, deitei-me na cama e fiquei olhando o teto, quase imóvel, num transe de desconforto supremo.”[vii] (STYRON, 1990, p. 24). Ele descreve sua sensação como um “torpor impotente” (p. 23), assim como de uma angústia que tomava seu cotidiano.
Articulamos esses momentos ao que Fédida nos ensina sobre a depressão:
“Nela, a intensidade das cores esmaece, assim como o claro-escuro, dando lugar a uma tonalidade cinza, sem contraste. Os cheiros param de ser percebidos, as texturas deixam de ser registradas, os sons ficam adormecidos e podem até desaparecer. O processo digestivo fica prejudicado e o corpo passa a ficar pesado. Os movimentos corporais ficam lentos, os pés se arrastam. Em suma, o corpo penetra um estado de insensibilização da sensorialidade.” (FÉDIDA, 2008, p. 76)
Um derrotado antes do combate
No cenário de um ‘caso’ depressivo, segundo a linha teórica adotada por estes autores, estaríamos à procura de um sujeito que abdica de seu desejo, que de alguma forma ao longo de sua história tenha se retirado da arena de combate fálico com seu pai ou quem viesse a realizar a função paterna. Diferentemente de um castrado que rivaliza e perde, o futuro depressivo em seu tempo infantil teria abdicado do seu lugar mesmo antes da disputa.
Lacan em seu texto sobre o Complexo de Édipo o divide em ‘etapas’: primeiro, segundo e terceiro tempos. Seguindo seu texto, o menino trazido à vida pelo desejo materno, migraria gradualmente da posição de um ‘objeto’ absoluto de satisfação à mãe, para a de um sujeito faltante. Neste percurso caberia a ele ter sua ‘completude’ frustrada por uma mãe também castrada e sujeita a falhas; concorrer pelo interesse da mesma com seu pai e perder essa disputa; para mais à frente, descobrir que mesmo aquele pai castrador também é falível e castrado[viii].
No Seminário 5: As Formações do Inconsciente (1957-1958), Lacan irá aprofundar a função do pai na ordem simbólica. “Não existe a questão do Édipo quando não existe o pai, e, inversamente, falar do Édipo é introduzir como essencial à função do pai”. (LACAN, 1999 [1958], p. 171).
Neste embate entre filho e pai a castração é necessária mas também é dependente de um processo onde o combatente, apesar de derrotado, deva ser capaz de lutar pelo seu desejo. Um combatente esperançoso que sai de cena perdedor, mas ainda capaz de bons combates[ix].
Um pai extremante ‘seguro’ e ‘eficiente’ no disfarce de suas falhas poderia inviabilizar a disputa e não abrir espaço ao filho em sua arena. Sem as esperanças de conquista e na certeza definitiva de um combate sem chance de vitória, citando o psicanalista Mauro Mendes, o futuro depressivo em seu conflito edípico “cairia antes da sua queda”[x].
A ausência de um lugar e adversário que possibilitem ao menino a mínima chance de conquista tampona sua esperança de vitória, que parte descartada desde o princípio. Uma esperança que é combustível necessário ao desejo, que torna-se impotente na ausência da primeira. Um alimento necessário à fantasia do sujeito, há de que se primeiro imaginar completo para que mais frente possa se descobrir castrado. Um castrado à priori é ‘impotente’, carne morta ou um mero instrumento sexual[xi].
Uma castração aterrorizante
O Complexo de Édipo nos guia no sentido de demarcar as estruturas clínicas, que estarão articuladas à constituição do sujeito. Lacan formula em seu ensino momentos lógicos da constituição subjetiva, articulando-a ao Complexo de Édipo, onde a castração simbólica toma lugar privilegiado à formulação do desejo.
“Mas o que não é mito, e que Freud no entanto formulou tão logo formulou o Édipo, é o complexo de castração. (...) Pois, propriamente desconhecido até Freud, que o introduz na formulação do desejo, o complexo de castração já não pode ser ignorado por nenhum pensamento sobre o sujeito”. (LACAN, Escritos, 1998 [1960], p. 835).
Para Kehl (2009) quando pensamos no retraimento da libido do qual sofre o sujeito depressivo, poderíamos articular essa dor ao que estaria mais próximo de uma evitação diante da dor advinda da castração. Durante as perdas inevitáveis sofridas ao longo da vida, próprias à existência humana, de alguma forma esta dor se reatualiza.
Seguindo as elaborações de Kehl (2009) essa dor provocada no sujeito depressivo estaria mais próxima ao desinvestimento do próprio desejo e o do sentimento de culpa consequente. O sujeito depressivo parece possuir uma atitude fatalista diante do mundo e de suas relações, o que lhe causaria um empobrecimento do pensamento simbólico, a via privilegiada de acesso ao desejo inconsciente.
Um sujeito cedente de seu desejo
Lacan refere-se a uma posição do sujeito na qual nomeou demissão subjetiva[xii], ao falar sobre as depressões, e da culpa que sofre o sujeito depressivo ao ceder em seu desejo. Ele fala sobre a “traição da vida desejante, sendo a única posição pela qual, o sujeito deveria sentir-se legitimamente culpado” (KEHL, 2009, p. 219). Citamos Lacan:
“Proponho que a única coisa da qual se possa ser culpado, pelo menos na perspectiva analítica, é de ter cedido de seu desejo. Essa proposição, aceitável ou não em tal ética, expressa suficientemente bem o que constatamos em nossa experiência. Em última instância, aquilo de que o sujeito se sente efetivamente culpado quando apresenta culpa, de maneira aceitável ou não pelo diretor de consciência, na raiz, na medida em que ele cedeu em seu desejo” (LACAN, 2008 [1960], p. 373).
Kehl (2009) esclarece que recuar da posição ‘desejante’ não é o mesmo que recusar o desejo em si. Não tendo sido acessada sua estrutura inconsciente, trata-se somente da desistência do desejo como causa, que faz com que o sujeito permaneça ‘imobilizado’ em uma cadeia de repetições.
O depressivo ao escolher recuar diante da castração ignora o valor da mesma, uma vez que é a partir dela que o desejo pode apresentar-se. Para o depressivo, a castração se reveste de uma condição de impotência e incapacidade, permanecendo nessa posição o sujeito não consegue extrair o valor desta operação simbólica, ou seja, não se apropria da potência da castração como causa do desejo. O sujeito ao deparar-se com a castração e recuar, abre mão de sua posição desejante.
“Nisso consiste a dor moral do depressivo, prova de que ele, embora conheça a castração, não seja capaz de simbolizá-la”. (KEHL, 2009, p. 19). Em seu trabalho intitulado “Televisão” Lacan coloca:
“Mas esse não é um estado de espírito [état d’âme], é simplesmente uma falha [faute] moral, como se exprimiam Dante e Espinosa: um pecado, o que significa uma covardia moral, que só é situado em última instância, a partir do pensamento, isto é, do dever de bem dizer, ou de se referenciar no inconsciente, na estrutura”. (LACAN, 2003 [1973], p. 524).
Culpa e gozo nos estados depressivos
Retomando o sentimento de culpa de que sofre o sujeito depressivo, Kehl (2009) recupera do ensino lacaniano, que a única justificativa para esse sentimento estaria no que Lacan diz sobre trair a si mesmo, “se vê abatido e sem razão de viver porque intui que traiu a si mesmo, traiu a via que o representava como sujeito de um desejo marcado pelo significante” (KEHL, 2009, p. 59).
Citamos Lacan, em O Seminário, livro 7, a ética em psicanálise, sobre ceder em seu desejo:
“O que chamo ceder de seu desejo acompanha-se sempre no destino do sujeito - observarão isso em cada caso, reparem em sua dimensão - de alguma traição. Ou o sujeito trai sua via, se trai a si mesmo, e é sensível para si mesmo. Ou, mais simplesmente, tolera que alguém com quem ele se dedicou mais ou menos a alguma coisa tenha traído sua expectativa, não tenha feito com respeito a ele o que o pacto comportava, qualquer que seja o pacto, falso ou nefasto, precário, de pouco alcance, ou até mesmo de fuga, pouco importa.
Algo se desenrola em torno da traição, quando se a tolera, quando impelido pela ideia do bem - quero dizer, do bem daquele que traiu nesse momento - se cede a ponto de diminuir suas próprias pretensões, e dizer-se - Pois bem, já que é assim, renunciemos à nossa perspectiva, nem um nem outro, mas certamente não eu, não somos melhores, entremos na via costumeira. Aqui, vocês podem estar certos de que se encontra a estrutura que se chama ceder de seu desejo.” (LACAN, 2008 [1960], p. 375).
Para Teixeira (2008), quando Lacan refere-se a uma covardia moral é preciso compreender que não se trata de uma abordagem moralista das depressões, uma vez que Lacan “ao qualificar a depressão como efeito de uma lâcheté[xiii], está antes se referindo a ela como efeito de uma frouxidão, de uma ausência de tensão necessária ao exercício lógico do pensamento”. (TEIXEIRA, 2008, p. 29). O autor esclarece que se trata de uma falta ética: “A falta de vontade constante do sujeito depressivo corresponde, em certo sentido, a uma recusa ética de situar, através do pensamento, a estrutura simbólica que o determina no inconsciente.” (TEIXEIRA, 2008, p. 30).
Kehl nos esclarece a inversão feita por Lacan ao referir-se à culpa moral, quando o sujeito teria se deixado levar a um caminho que não seja o ‘seu’, ou seja, “o depressivo da psicanálise sente-se derrotado por ter cedido de um bem muito mais precioso, o caminho singular e intransferível de comunhão com a força inconsciente que o sustenta”. (KELH, 2009, p. 62). Ou como na citação que Teixeira (2008, p. 27) recuperou da carta de Clarice Lispector à sua irmã Berna: “O que é verdadeiramente amoral é ter desistido de si mesmo”.
Desistir e permanecer imobilizado em um gozo, repetitivo, mortífero e limitador da experiência do humano, a pulsão de morte encarnada em ‘vida’. “Trata-se de uma subtração, de uma carência simbólica, de uma renúncia do sujeito que desiste do desejo em face do gozo”. (SKRIABINE, 2006, p. 3).
O testemunho de Styron parece se ‘encaixar’ neste sujeito cedente de seu desejo quando sua vida se apresenta esvaziada e sem sentido, nos ‘autorizando’ a avançar na hipótese depressiva e simular uma ‘vinheta clínica’, mesmo sabendo que aquela não a é em absoluto. Um escritor consagrado que em seu texto autobiográfico sobre seu fenômeno depressivo, apresenta-se imobilizado pela ‘doença’ e sem ânimo básico à vida.
As drogas como solução
Apesar do texto ser de 1989 contemporâneo ao lançamento do Prozac[xiv], que iria ‘revolucionar’ o tratamento medicamentoso dos sintomas depressivos, o autor em diversos momentos já se colocava em busca de uma ferramenta farmacológica às suas questões e sofrimentos. Hoje, vários anos depois e com a farmacologia bem mais desenvolvida, tem sido oferecido um cardápio de ‘soluções’ químicas às estas questões. Não são raros os debates nos meios de comunicação entre leigos e técnicos enaltecendo as maravilhas do tratamento farmacológico. Uma fenômeno interessante quando o avanço do desenvolvimento tecnológico dessas drogas, de alguma forma ao invés de ‘curar’ e frear o aumento desta patologia, parece ter acelerado sua disseminação.
O autor mesmo ainda naqueles tempos quase pré-Prozac questiona e propõe ‘soluções’ químicas às suas questões e sofrimentos. Não cabe aqui prematuramente condenar o uso de antidepressivos, em muitos casos clínicos necessários, mas simplesmente problematizar sua prescrição banalizada na sociedade contemporânea.
Styron recorreu ao tratamento medicamentoso mas este não fora capaz de restituir a possibilidade de cura que ele apostara ou pelo menos o apaziguamento de seu sofrimento. Ele mesmo nos diz: “não existe remédio para os estágios mais adiantados da depressão” (STYRON, 1990, p. 17). Mais à frente, o excesso de medicação ainda o colocou em risco, bem longe do alívio ansiosamente ‘desejado’. O longo sofrimento o levou a cogitar a possibilidade de interromper sua própria vida, a aposta exclusiva na medicação de alguma forma o afastava ainda mais da singularidade do que estaria no cerne do seu mal-estar. Citamos Kehl:
“No entanto, quanto mais aqueles que sofrem depositam exclusivamente nos efeitos dessubjetivantes da medicação sua esperança de cura, mais se afastam da possibilidade de retornar uma via singular de compromisso com o desejo. Quanto mais aderem ao furor sanandi da indústria farmacêutica, que promete a imediata eliminação do mal-estar como se fosse essa a direção da cura (ou o segredo da felicidade), mais ficam sujeitos à acedia, à indolência melancólica do coração”. (KEHL, 2009, p. 104).
Styron coloca: “Como já disse, grande parte da literatura acessível sobre depressão é levianamente otimista, garantindo que quase todos os casos de depressão se estabilizam ou revertem quando se encontra o antidepressivo adequado”. (p. 20). O autor em sua busca por uma solução química para seu sofrimento, se distancia de suas próprias questões. Em posição oposta à psicanálise, aquela que convoca o sujeito a falar e consequentemente à experiência advinda do saber inconsciente.
Parece mais simples e objetivo desimplicar-se de suas questões e filiá-las a desordens químicas na dinâmica cerebral; e o autor não age de forma diferente. Ter de se haver com sua própria história pode ser doloroso, especialmente a alguém estrangeiro aos campos de batalha, como quem cai antes da queda, sem esperança de conseguir algo onde a derrota parece permanente. Não há vitória merecida àquele que nem comparece ao combate. Mesmo premiado sente-se fraude e vazio de qualquer merecimento, como posso ter vencido uma batalha a que não compareci?[xv]
Onde se pede velocidade parece impossível pausar
Em tempos atuais com frequência presenciamos um imperativo sem medida ao gozo do consumo, anestesiado por drogas e ciclos infinitos em redes sociais e séries de TV, com suas repetitivas voltas de uma corrida desenfreada ao ‘sucesso’. Esta maratona sem linha de chegada muitas vezes pode fazer ‘despertar’ estados depressivos latentes.
Na clínica destes deprimidos podemos ecoar e conhecer as consequências às exigências deste gozo sem limites. Sujeitos se rotulam impotentes e sem energia para corresponder às supostas demandas que se apresentam como intermináveis. A vulnerabilidade do potencial deprimido pode colocá-lo em uma posição de retraimento subjetivo, na medida em que é derrotado à priori na impossibilidade de vitória diante às demandas infinitas do Outro. “O grande Outro como discurso do inconsciente é um lugar. É de onde vêm as determinações simbólicas da história do sujeito”. (QUINET, 2012, p. 20-21).
“A tristeza, os desânimos, as simples manifestações da dor de viver parecem intoleráveis em uma sociedade que aposta na euforia como valor agregado a todos os pequenos bens em oferta no mercado”. (KEHL, 2009, p. 31). A autora destaca que vivemos em uma sociedade que valoriza ideais ligados ao imperativo de ser feliz constantemente e que a indústria farmacêutica veicula o caminho em que o depressivo precisaria se adaptar a essa normalidade.
A psicanálise se orienta na contramão do discurso da euforia dos bens de mercado, ela não se direciona aos ideais de adaptação, já que o psicanalista trilha um caminho distante das exigências indicadas pela panaceia capitalista. Ao escutar os sujeitos, um a um, nós psicanalistas caminhamos à margem do discurso ‘comum’, abrindo vertentes para o esvaziamento dos ideais de ‘normalidade’ contemporâneos. A falta estrutural, a incompletude da condição do humano, é a via privilegiada na clínica para o caminho rumo a uma posição desejante.
No caso testemunhado por Styron não nos parece coincidência o relato da crise do autor ser despertada justamente em Paris, quando o mesmo se preparava para ser homenageado. Estaria ele pressionado pelo bloqueio criativo em um entre obras logo após o estrondoso sucesso do seu último romance A Escolha de Sofia? Como justificar aos seus leitores ‘consumidores’ um bloqueio criativo no ponto mais alto de sua carreira? De alguma forma, o autor poderia estar refém de seu próprio sucesso e das cobranças consequentes[xvi]?
Por onde anda o pai?
Um escritor que conforme sua biografia vinha de uma família pequena: pai, mãe e filho único. Segundo o próprio, um filho típico em suas condições: na maioria das vezes egoísta e pouco interessado[xvii]. Caberia buscarmos na sua história a presença do pai fálico e dominador que teria comprometido suas esperanças infantis? Fomos buscar estes sinais em outros textos ficcionais do autor, mas com claras inspirações autobiográficas, como ele mesmo declarara abertamente[xviii]. O que encontramos não satisfez um tentativa de ‘encaixe’ teórico, já que mesmo no texto do livro onde é contada a história de sua depressão, o pai que ele nos apresenta está longe do tipo autoritário ‘infalível’.
Seu pai nos é apresentado em sua literatura como alguém oriundo do Sul dos Estados Unidos, região marcada em sua época por uma cultura conservadora e racista. Algo que parece ter marcado profundamente a história do autor, já que não são poucas as referências raciais na obra de Styron. Sua mãe, ao contrário, tinha vindo do Norte do país e estudado na Europa, mais especificamente em Viena. Ela nos é apresentada como uma mulher culta, cantora e profunda amante da música, tendo marcado a memória do autor com seu ‘altar’, instalado sobre seu piano com bustos de compositores famosos, e com as cenas de suas sessões de cantoria ao piano de clássicos alemães, absolutamente dissonantes da realidade sulina donde a pequena família residia[xix]. Nos conta o autor que sua mãe atraia uma pequena plateia de curiosos entre seus vizinhos em suas sessões informais de música[xx].
Já seu pai, por outro lado, tinha formação técnica e trabalhava como engenheiro na Marinha dos Estados Unidos na construção de navios de guerra. Um cargo técnico sem grande relevância, mas que na fantasia de seu filho quando ainda menino, o fazia responsável pela construção daquelas naves, que este via junto ao seu pai em pomposas cerimônias de lançamento ao mar.
O ambiente militar era bastante presente na família paterna, onde a tradição de participar de alguma forma nos conflitos armados americanos era seguida geração após geração[xxi]. Seu pai impossibilitado por questões de saúde, tinha compensado sua ‘falha’ contribuindo tecnicamente na construção de armas bélicas à armada de seu país. Styron por seu lado, não deixou de seguir esta linhagem tendo sido um fuzileiro naval, quando por pouco não participou diretamente dos combates da Segunda Guerra Mundial. Segundo ele próprio a Marinha o ensinou o quanto algo pode ser duro[xxii].
Seu pai diferentemente do esperado pai dominador e limitante da disputa, hipótese teórica das depressões, era pelo contrário um pai depressivo a ponto do autor no seu texto vincular seus sintomas a algo geneticamente herdado. A hipótese de um pai limitador da disputa edípica aparentemente não se confirmaria na história do nosso herói? Talvez.
Um pai de diversas faces e identificações
Mas seu pai além da face depressiva, técnica e de poeta amador, em outros momentos revelava-se fera. Um lado omitido ou ‘esquecido’ no testemunho de seu filho na sua experiência depressiva e mesmo em outros escritos, mas lembrado por seus parentes mais próximos. O patriarca apesar de um exterior calmo e amoroso, também revelava-se portador de uma raiva explosiva que poderia aparecer sem aviso. Seu ‘herdeiro’ não era diferente, também trazia consigo esta característica e era conhecido por seus filhos quanto aos seus assustadores ataques de cólera, que de todo modo deveriam ser evitados. Seriam estes seres erráticos e de humor flutuante inibidores de disputas? Também talvez.
De todo modo cabe pensar em mais hipóteses às origens do ‘caso’ em questão. Uma identificação direta ao pai de alguma forma poderia confirmar a afirmação ‘genética’ do filho. É sabido que seu pai é apontado pelos biógrafos de Styron como talvez sua principal influência, uma novela inspirada na sua história foi muito trabalhada mas nunca terminada[xxiii]. Foi seu pai que ainda no início de sua carreira literária financiou seus longos anos investidos na escrita do seu primeiro romance, que o revelou como uns dos grandes da sua geração, naquele tempo ainda com vinte seis anos[xxiv]. Um romance escrito, reescrito e revisto à exaustão, conforme as palavras do próprio autor que o deixavam na certeza de ter escrito um bom livro[xxv].
Identificações que se iniciavam por seus nomes, já que pai e filho compartilhavam o nome William, e não terminavam na posição depressiva do pai; já que este sendo um fiel amante das letras, leitor e escritor amador em intensidade, se considerava um poeta perdido no mundo da técnica, sendo associado pelo filho como o homem que estava sempre em seu escritório consumido por suas leituras e escritos[xxvi]. Sua mãe, quando o autor ainda era menino, questionava seu filho único, pouco social e demasiadamente concentrado em suas leituras, como um assemelhado ao seu pai.
Uma mãe potente esvaziada pela doença
Talvez essa mãe confirme uma outra hipótese teórica da mãe ‘apressada’, aquela que atende às necessidades do seu filho sem abrir espaços às suas elaborações e fantasias, uma mãe que por sua postura ativa, mas especialmente invasiva, limitaria a construção das projeções daquele sujeito. Conforme proposto por Kehl:
“O Outro, na origem da vida psíquica de um future depressivo, apressa-se para estar sempre presente. Ele atropela a temporalidade psíquica da criança que se torna, em decorrência da pressa do Outro, particularmente lenta e inapetente em sua vida mental.” (KEHL, 2009, p. 224).
Sua mãe é ‘descrita’ nos textos do seu filho como uma mulher questionadora do pai, aparentemente infeliz com o destino do seu casamento, abaixo de suas ambições para vida. Em determinado momento, ela interroga seu marido do que seria seu destino caso houvesse se casado com um outro pretendente e mantido morada no Norte do país, na época bem mais progressista que o Sul, origem do seu marido e morada da família[xxvii]. Ela aparentemente desejava mais para sua existência.
Em outro trecho ela questiona as fantasias do seu filho, que segundo ela, falava bobagens por má influência de uma literatura de baixa qualidade absorvida pelo menino, influenciado por revistas de qualidade duvidosa assinadas por seu pai. A crítica ao menino indiretamente atingia seu pai e a dupla identificada.
Será que estes sinais nos apresentaria uma mãe intrusiva e que de alguma forma teria inviabilizado os sonhos de seu filho e suas futuras construções imaginárias[xxviii]? Parece estranho seguirmos esta hipótese a alguém que construiu sua vida e carreira ao longo da sua habilidade na construção de mundos literários, reconhecido e premiado em seu tempo. A escrita que desde muito cedo foi seu lugar de expressar em palavras suas questões.
Como explicar alguém reconhecido e premiado por sua produção artística ser depressivo por uma pobreza imaginária à própria vida? Talvez ela estivesse deslocada ao terreno ‘seguro’ de sua criação literária, mas mesmo a escrita, apesar de seu talento, nunca fora um ofício suave. Sua biografia nos indica comentários como os de sua filha, que conhecia a lei de não importunar papai quanto aos seus trabalhos e escritos. Sua produção consumia longos anos e seus livros eram publicados em intervalos de décadas. Mais ainda, como ele mesmo afirmou no texto do seu relato depressivo, o álcool fora seu companheiro criativo e considerava-se dependente dele para suas construções. Quando da proibição do seu consumo, logo após o grande sucesso do seu mais famoso romance, filmado e premiado no cinema de Hollywood: A Escolha de Sofia; parece que o fato unia um bloqueio criativo à ausência do seu estimulante etílico.
De alguma forma sua voz estava calada na escrita e mesmo na fala, quando dizia ter pouca potência vocal, comunicando-se por sussurros nos tempos depressivos[xxix]. Seu fígado debilitado por quarenta anos de consumo álcool desenfreado, dera um basta a sua musa criativa e principal parceira às suas angústias reprimidas ou ‘esquecidas’.
Álcool e escrita seguiam entrelaçados havia anos. De alguma forma sustentavam e abasteciam um imaginário pouco potente à vida e talvez reprimido pela mãe intrusiva dos seus primeiros anos de vida. No momento onde este tripé perde sustentação, o sujeito se desestrutura e cai em depressão. Não há como não associá-los, já que quando o álcool é reprimido a depressão logo se apresenta e assume o comando, como uma companheira que estivera sempre à espreita, aguardando sua melhor oportunidade.
Não nos parece também coincidência que suas piores crises iniciassem-se sempre à tarde, parte do dia originalmente dedicada à escrita. Um trabalho que se tornou cada vez mais difícil até finalmente interromper-se.
Mas sua história ainda traria mais elementos que nos dariam pistas de outros ‘causadores’ de sua posição. Ele mesmo afirma e justifica no seu texto a hipótese de um luto não realizado em relação a morte prematura de sua mãe, quando ele era ainda um menino de cerca de treze anos e ‘esquecer’ parecia ser o único caminho[xxx]. Não parece coincidência que ele marque o início da sua escrita no mesmo ano em que perde sua mãe, uma aparente tentativa recorrente de sublimar seu sofrimento pela literatura, que perseguiu ao longo de toda vida[xxxi].
Um evento traumático para alguém que ainda jovem presenciara o dia a dia de uma longa batalha de sua mãe contra um câncer de mama, que a acompanhou por vários anos e o apresentou a amargas experiências. Sua mãe antes altiva e amante das artes e da música, pouco a pouco tornou-se em uma mulher agonizante, trancada em seu quarto e com um sofrimento ouvido à distância, por gritos de dores e pelo sofrimento do seu marido na tentativa de aliviá-los. O filho ainda pequeno era testemunha da lenta transformação da casa daquela pequena família em uma câmara mortuária de sua mãe.
Estas cenas com certeza impactaram a criança aterrorizada pela possibilidade do abandono, seu parceiro de todos os dias, ou mesmo quando uma pequena alteração na arrumação nos objetos de sua casa era capaz de afetá-lo em suas inseguranças. Como se fossem um último refúgio das memórias de outros tempos mais felizes daquele lugar e sua infância ‘original’.
Caberia perguntar se a desesperança de sua mãe doente terminal o apresentou a um caminho prematuro da ausência de sentido a uma vida sempre terminada na morte, como o trecho escrito por Albert Camus no seu livro Mito de Sísifo, citado por Styron em seu relato: “Só existe um problema filosófico sério, o do suicídio. Julgar se a vida vale ou não ser vivida, corresponde à questão fundamental da filosofia”; ficando a pergunta se há sentido em investir-se em uma história que de antemão já se conhece como termina.
Outros tempos e lugares
No seu relato biográfico o autor nos indica seus caminhos de ‘recuperação’: a escuta acidental de uma canção que tempos atrás sua mãe, ainda saudável, cantava em casa; e a internação em uma clínica psiquiátrica.
De alguma forma, como ele mesmo afirma, a música o lembrou dos tempos felizes na casa materna, tempos anteriores à doença e morte de sua mãe. A canção abriu espaço para um outro lugar ‘esquecido’. De alguma forma o luto não realizado talvez o tenha deixado imobilizado na cena da casa vazia, morta, quando então a música de outrora ouvida acidentalmente teria sido capaz de desviar seu olhar daquela cena agonizante e sem esperança[xxxii].
A clínica de internação psiquiátrica lhe ofereceu um novo lugar temporário mas protegido. Uma troca de posição, como na recordação da infância, mas onde agora objetos e lugares anteriores o ‘prendiam’ em um cena depressiva de um luto ainda não vivido.
Uma segunda mãe?
Tempos mais tarde em outros escritos, possivelmente influenciado pela lembrança restauradora, ele criará ou relembrará em outro texto o momento em que uma empregada de sua casa, negra, em meio as confusões do sofrimento de sua mãe em seus últimos momentos, o retirara dali e em suas palavras recomendara ao pobre menino testemunha de tanto sofrimento, que se lembrasse de outros momentos, os momentos felizes daquela casa[xxxiii]. A funcionária que trabalhava na casa da família há tempos[xxxiv], tentava amparar o menino quase órfão de mãe.
O próprio autor indica que ela teria atuado como uma mãe substituta a original, sua mãe negra. Vários anos depois, a recomendação daquela segunda mãe, no momento decisivo do quase suicídio, atuou e o indicou uma possibilidade ao escutar a música que o levava aos “tempos felizes”. Uma esperança de um caminho a seguir, ainda que quase tardia e a custos de muitos anos de não elaboração.
A mãe negra cumpriu sua missão e ainda o ‘acompanhou’ por um longo tempo em sua literatura. A questão racial, alvo de discussões domésticas de sua mãe fortemente contrária às posições racistas tão comuns no Sul do país - morada da família terra do original de seu pai - é retratada em diversas obras, especialmente no livro As Confissões de Nat Turner, Prêmio Pulitzer de 1968. Apesar de premiado, este foi duramente questionado por líderes negros da época, que o condenaram quanto a sua pretensão de, sendo um autor branco e sulista, habilitar-se a escrever sobre a história de um herói negro.
Crítica especialmente difícil a quem tinha como ‘missão’ na escrita impactar seus leitores, como ele mesmo afirmara[xxxv]. Cena que o posicionou como homem branco e o ratificou na sua posição de órfão, frustrando sua tentativa de ‘filiação’ bastarda àquela mãe negra. De alguma forma sua ‘condenação’ retorna no seu livro seguinte, A Escolha de Sofia, quando o personagem principal, um escritor branco, sulista e órfão de mãe, é questionado por suas posições racistas, inexistentes mas diretamente associadas a ele simplesmente por sua procedência geográfica.
A casa desesperançada e lar da agonia final de sua mãe é retratada em outro dos seus textos, onde um menino presencia a discussão de seu pai, revoltado com a doença de sua esposa, com religiosos sobre a crueldade do Deus que eles ali representavam. Ele não existia ou era um Deus cruel por causar tanto sofrimento à sua esposa. Nem mesmo a religião ofereceria um fio de esperança ao pai ou ao filho identificado com o primeiro, indicando que talvez só coubesse a eles a alternativa da ‘saída’ de cena: a antecipação de um destino mortífero já definido. A recomendação de sua babá “guarde os tempos felizes desta casa” de alguma forma foi tamponada e ‘esquecida’ pelo seu filho postiço, que feito órfão mais uma vez por seus ‘pares’, não foi efetivada até o último momento, quando esta o desviou da realização do seu ‘destino’.
Pelas palavras
Mesmo ‘salvo’ e ciente da ausência do luto adiado, percebida e registrada pelo próprio autor no seu texto, estes não foram capazes de livrá-lo de vez do fantasma da depressão. Ela o perseguiu ao longo de toda sua vida, mesmo depois da experiência apresentada no livro. As marcas adiadas por tanto tempo pela muleta etílica deixaram sulcos profundos e talvez não mais cicatrizáveis.
Não há como saber o que a psicanálise poderia ter feito por ele. Em seu embate com suas questões ela teve pouco ou nenhum espaço e a farmacologia médica foi sua principal escolha, talvez como herdeira da ‘solução’ etílica ‘original’[xxxvi]. Foram diversos tratamentos com reações de vários tipos, talvez alavancados pelo sucesso do seu livro testemunho em tempo coincidente com descobertas medicamentosas e seus ‘estímulos’ de mercado.
Anos mais tarde, seu filho Thomas Styron também foi vítima de uma depressão profunda, praticamente seguindo a ‘tradição’ da família. No entanto, diferentemente de seu pai, resolveu buscar ajuda por outros caminhos. Optou pela psicoterapia ao invés das drogas, como em suas próprias palavras: “No final, o que realmente me ajudou foi muita psicoterapia e tempo”.[xxxvii] Talvez um anúncio do que a cura pela palavra poderia ter feito por seu pai. Palavra que mesmo longe da clínica psicanalítica, esteve muito presente em sua obra, uma mensagem clara do que aquele autor queria e precisava falar.
O testemunho da sua depressão, como ele afirmou, resgatou uma parte de sua história, aprofundada e expandida em textos posteriores, que transitaram pela guerra, meninos órfãos, mães com doenças terminais e questões raciais; repetidas tentativas de sublimar questões que não tiveram escuta, deixaram marcas e uma desesperança, que foi sua companheira por toda vida.
“Espero que os leitores de ‘Perto das Trevas’ - passado, presente e futuro - não se sintam desencorajados pela maneira como morri. A batalha que travei contra essa doença vil em 1985 foi bem-sucedida e me trouxe 15 anos de vida feliz, mas a doença finalmente venceu a guerra. Todos devem manter a luta, pois é sempre provável que você̂ ganhe a batalha e quase com certeza ganhe a guerra. Para todos vocês, sofredores e não sofredores, eu envio meu amor permanente.”[xxxviii]
William Styron aos 75 anos.
Referências
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Notas
[i] Psicanalista, mestre pelo programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica da PUC-SP, doutorando em Psicologia Clínica pelo Intituto de Psicologia da USP e fundador do_ATELIÊ. Pesquisador independente sobre psicanálise, sociedade, tecnologia e sustentabilidade. Autor do livro: “Inútil Necessário: precisamos de arte agora?!”, publicado pela Editora Zagodoni.
[ii] Psicanalista, mestre e doutoranda pelo programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica da PUC-SP.
[iii] Tradução livre de: “Perhaps I’ll change some as I get older, (…) but it seems to me that life (…) is a long gray depression interrupted by moments of high hilarity.” (“The New York Times: Styron Visible”, Blake Bailey, 2013)
[iv] “Título original Darkness Visible, 1990. Parte da obra foi originalmente publicada na revista Vanity Fair, em 1989.”
[v] “(...) é a sensação de odiar a si mesmo (...), a falta completa de autoestima. À medida que a doença progredia, meu valor diminuía assustadoramente ante meus olhos.” (“Perto das Trevas”, William Styron, 1990, p. 13)
[vi] “Na melancolia, o Outro ‘morto’ (a mãe que não dá a seu bebê um lugar simbólico) não permitiu que essa identificação [significante do objeto de falta à mãe] se formasse.” (“O tempo e o cão”, Maria Rita Kehl, 2015, p. 201)
[vii] “O tédio, fruto da ‘incuriosidade’, indica o fatalismo e o desinteresse por uma vida cujo devir não apresenta nenhuma perspectiva de superação do presente.” (“O tempo e o cão”, Maria Rita Kehl, 2015, p. 15)
[viii] “No primeiro tempo e na primeira etapa, portanto, trata-se disto: o sujeito se identifica especularmente com aquilo que é objeto de desejo da mãe. (...) Segundo tempo. Eu lhes disse que, no plano imaginário, o pai intervém efetivamente como privador da mãe. (...) O terceiro tempo é este: o pai pode dar à mãe o que ela deseja, e pode dar porque possui. (...) o pai intervém como real e potente. Esse tempo se sucede à privação ou à castração que incide sobre a mãe, a mãe imaginada, no nível do sujeito, em sua própria posição imaginária, a dela, de dependência. É por intervir como aquele que tem o falo que o pai é internalizado no sujeito como Ideal do eu, e que, a partir daí, não nos esqueçamos, o complexo de Édipo declina.” (“O seminário livro 5: as formações do inconsciente 1957-1958”, Jacques Lacan, 1999, p. 198-201)
[ix] “O depressivo está marcado pela castração, mas não a simboliza – até aqui, não se diferencia do neurótico. Só que a castração é para ele motivo de dor narcísica e também de vergonha (são estes os componentes de sua dor moral), uma vez que ele se instalou na condição de castrado por covardia – para esquivar-se da rivalidade fálica com o pai.” (“O tempo e o cão”, Maria Rita Kehl, 2015, p. 201)
[x] “Na posição depressiva o sujeito não tem confronto, não vai brigar. Ele vai para o chão. Ele cai, antes da queda. Isso é que é complicado na posição depressiva. É por isso que o depressivo sempre promove, para aqueles que com eles se encontram essa tentativa de vitalizá-lo: ‘Vai, vai, briga, enfrenta a vida!’. Só que isso não adianta de nada.” (“Caderno do seminário: neurose e depressão”, Mauro Mendes Dias, 2003, p. 69-70)
[xi] “Ao colocar-se ante a exigência de ‘tudo ou nada’, acabam por instalar-se do lado do nada. O depressivo não enfrenta o pai. Sua estratégia é oferecer-se como objeto inofensivo, ou indefeso, à proteção da mãe.” (“O tempo e o cão”, Maria Rita Kehl, 2015, p. 15)
[xii] “Demissão subjetiva foi como Lacan designou a posição do sujeito que se deprime: aquele que sofre da única culpa justificável, em Psicanálise, a culpa por ceder em seu desejo.” (“O tempo e o cão”, Maria Rita Kehl, 2015, p. 58) [xiii] “Lâcheté” traduzível por covardia em português.
[xiv] “Prozac é o nome de marca registrada do cloridrato de fluoxetina, um dos antidepressivos mais prescritos do mundo . Foi o primeiro produto de uma grande classe de medicamentos para a depressão chamados inibidores seletivos da recaptação da serotonina - ou SSRIs. A história da droga remonta ao início da década de 1970, quando o papel da serotonina na depressão começou a surgir, de acordo com David T. Wong, KW Perry e FP Bymaster, em seu artigo de setembro de 2005, "The Discovery of Fluoxetine Hydrochloride (Prozac)", publicado na revista "Nature Reviews: Drug Discovery". Eles acrescentam: ’Esses estudos levaram à descoberta e ao desenvolvimento do inibidor seletivo da recaptação da serotonina, cloridrato de fluoxetina (Prozac; Eli Lilly), que foi aprovado para o tratamento da depressão pelo FDA dos EUA em 1987.’ O Prozac foi introduzido pela primeira vez no mercado dos Estados Unidos em janeiro de 1988 e ganhou seu status de ‘mais prescrito’ em dois anos.” (Link disponível em: https://www.greelane.com/pt/humanidades/hist%C3%B3ria--cultura/history-antidepressant-prozac-4079788/, 03/07/2019)
[xv] Seu relato sobre sua experiência depressiva, destaca o período de sua viagem à Paris para o recebimento do prestigiado Prêmio Mundial Cino del Duca. Ao longo do seu texto ele por diversas vezes comenta situações onde ele se distancia da honraria, evitando cerimônias tradicionais ou mesmo perdendo o cheque de vinte cinco mil dólares recebido na ocasião.
[xvi] “Em sua edição de verão de 1985, a revista Esquire publicou "Love Day", cobrando-o como um trecho de seu romance tão esperado. Meu pai recebeu uma chuva de cartas, de amigos e fãs, a reação imediata e esmagadoramente positiva. O mundo estava em alerta. Bill Styron estava de volta; a grande literatura americana viveria para ver outro dia.”. Tradução livre de: “In its 1985 summer reading issue, Esquire magazine published “Love Day,” billing it as an excerpt from his long-awaited novel. My father was showered with mail, from friends and fans alike, the reaction immediate and overwhelmingly positive. The world had been put on alert. Bill Styron was at it again; great American literature would live to see another day.” (“Reading my father: a memoir”, Alexandra Styron, 2011, p. 8). Depois de “A Escolha de Sofia” ele não iria voltar escrever nenhuma outra grande novela.
[xvii] “Eu era o filho único clássico - esnobe, egocêntrico”. Tradução livre de: “I was the classic only child — snotty , self-absorbed.” (“A Tidewater Morning: Three Tales from Youth”, William Styron, 2010, p. 27)
[xviii] “A primeira coisa que me veio à mente quando comecei a escrever A Tidewater Morning foi fazer uma declaração sobre o efeito da morte de minha mãe em mim. Essa foi a força energizante por trás da história. Eu também queria fazer uma declaração sobre meu pai.”. Tradução livre de: “The first thing that came into my mind when I began to write A Tidewater Morning was to make a statement about the effect on me of the death of my mother. That was the energizing force behind the story. I also wanted to make a statement about my father.” (“Looking Back: A Conversation with William Styron”, Gavin Cologne-Brookes and William Styron, 2009, p. 499)
“Os escritos de ficção e não ficção de Styron baseiam-se fortemente nos eventos de sua vida, incluindo sua criação no sul, a morte de sua mãe por câncer em 1939, sua história familiar de propriedade de escravos e sua experiência como fuzileiro naval dos Estados Unidos.”. Tradução livre de: “Styron’s fiction and nonfiction writings draw heavily from the events of his life , including his Southern upbringing , his mother’s death from cancer in 1939 , his family history of slave ownership , and his experience as a United States marine.” (“A Tidewater Morning: Three Tales from Youth”, William Styron, 2010, p. 143)
[xix] “Não havia para mim nenhuma iconolatria cafona nos bustos de gesso de Schubert, de Beethoven, de Brahms; se eles fossem os santos que minha mãe adorava, sua presença era manifestamente justificada.”. Tradução livre de: “There was to me no corny iconolatry in the plaster busts of Schubert, of Beethoven, of Brahms; if they were the saints my mother worshiped, their presence was manifestly justified.” (“A Tidewater Morning: Three Tales from Youth”, William Styron, 2010, p. 103)
[xx] “Poucas pessoas na aldeia ligavam para essa música ou a ouviam seriamente; mesmo assim, ninguém considerava minha mãe estranha ou esquisita e, na verdade, de vez em quando crianças se reuniam ao longo da cerca de nosso quintal, junto com alguns adultos, e a ouviam, batendo palmas quando ela terminava com uma voz suave (...).”. Tradução livre de: “Few people in the village cared for such music or listened to it seriously; even so, no one considered my mother odd or freakish, and in fact once in a while children would gather along the fence of our backyard, along with a few grown - ups, and listen to her, clapping when she finished with mild but real appreciation for these joyous and plaintive tunes (…).” (“A Tidewater Morning: Three Tales from Youth”, William Styron, 2010, p. 104)
[xxi] “Não consigo deixar de pensar nas gerações - como já disse uma vez, eu acho: todos os ancestrais diretos feridos, mutilados ou mortos em quase todas as guerras que este país travou.”. Tradução livre de: “I can’t help thinking of the generations — as I once told you, I think: every direct ancestor hurt or mutilated or dead in nearly all the wars this country has fought.” (“A Tidewater Morning: Three Tales from Youth”, William Styron, 2010, p. 34)
[xxii] “Sobre o serviço militar, meu pai escreveu certa vez: ‘Foi uma experiência que eu não gostaria de perder, mesmo que apenas por causa da maneira como testou minha resistência e minha capacidade para a miséria absoluta, física e espiritual.’”. Tradução livre de: “Of military service, my father once wrote, ‘It was an experience I would not care to miss, if only because of the way it tested my endurance and my capacity for sheer misery, physical and of the spirit.’” (“Reading my father: a memoir”, Alexandra Styron, 2011, p. 2)
[xxiii] “(…) ele havia trabalhado em um romance vagamente baseado na vida de seu pai, um engenheiro naval cujo personagem singular fez mais do que qualquer outra coisa para moldar o do meu pai. Eu conhecia este livro apenas vagamente, tendo ouvido minha mãe falar sobre ele uma vez e talvez tendo lido algo sobre ele em uma entrevista que meu pai havia dado alguns anos antes. Como sempre, seria um “Grande Livro”, sobre as meadas da história conturbada que percorria o Sul dos Estados Unidos, onde ele foi criado. Era sobre Guerra e Raça. E, no fundo, era para ser uma história de amor.”. Tradução livre de: “(...) he had worked on a novel loosely based on the life of his father, a marine engineer whose singular character had done more than anything else to mold my father’s own. I knew of this book only vaguely, having heard my mother talk about it once and maybe having read something of it in an interview my father had given some years before. As always, it was to be a “Big Book,” about the skeins of troubled history running through the American South in which he was raised. It was about War and Race. And, at its heart, it was to be a love story.” (“Reading my father: a memoir”, Alexandra Styron, 2011, p. 12)
[xxiv] “Em 1952, quando tinha 26 anos, meu pai publicou seu primeiro romance, Lie Down in Darkness. O livro foi um sucesso imediato e ele logo foi saudado como uma das grandes vozes literárias de sua geração.”. Tradução livre de: “In 1952, when he was twenty-six, my father published his first novel, Lie Down in Darkness. The book was an immediate success, and he was soon hailed as one of the great literary voices of his generation.” (“Reading my father: a memoir”, Alexandra Styron, 2011, p. 2)
[xxv] “Em uma carta de 24 de janeiro de 1951 para seu pai, Styron diz sobre seu primeiro romance recém- concluído: “agora... posso realmente sentir que não apenas escrevi um romance, mas um bom romance, talvez até um romance realmente bom... e espero que dê a algumas pessoas um prazer na proporção inversa da dor que me causou ao escrever.”. Tradução livre de: “In a January 24, 1951, letter to his father, Styron says of his recently completed first novel , “now... I can truthfully feel that I’ve not only written a novel, but a good novel, perhaps even a really fine novel... and I hope it gives some people a pleasure in inverse proportion to the pain it’s caused me in the writing.” (“A Tidewater Morning: Three Tales from Youth”, William Styron, 2010, p. 143)
[xxvi] “O garoto revela um interesse especial por seu pai, gostaria de crescer e ser como ele, tomar o lugar dele em todas situações. Digamos tranquilamente: ele toma o pai como seu ideal.” (“Psicologia das Massas e Análise do Eu”, Sigmund Freud, 1921, p. 60)
[xxvii] “Se eu tivesse me casado com Charlie Winslow, tenho certeza de que teríamos viajado para algum lugar pelo menos ocasionalmente. Tenho certeza de que ele teria me levado a Paris, e eu teria visto Viena novamente, talvez até tivesse um vestido Chanel - nada realmente extravagante, você entende, apenas algo que uma mulher gostaria de usar uma vez na vida.”. Tradução livre de: “If I’d married Charlie Winslow I’m certain we’d have traveled somewhere at least occasionally. I’m sure he would have taken me to Paris, and I would have seen Vienna again I might have even had one Chanel gown—nothing really extravagant, you understand, just something that a woman might like to wear once in her lifetime.” (“A Tidewater Morning: Three Tales from Youth”, William Styron, 2010, p. 109)
[xxviii] “(...) os depressivos sofrem de um empobrecimento do imaginário, esse registro das representações psíquicas que deveria fornecer um mínimo de confiança na vida, um mínimo de fé nas representações correntes da felicidade.” (“O tempo e o cão”, Maria Rita Kehl, 2015, p. 184)
[xxix] “Lembro-me especialmente do desaparecimento, lamentável e quase total, da minha voz. Seu tom sofreu uma estranha transformação, ficando às vezes muito fraco, chiante e espasmódico – mais tarde, um amigo observou que era a voz de um homem de noventa anos. A libido também fez uma retirada precoce (…). A perturbação de instintos mais dolorosa foi a do sono, ao lado da ausência completa de sonhos.” (“Perto das Trevas”, William Styron, 1990, p. 54)
[xxx] “Eu queria excluir todas as impressões de sua doença – as costas curvadas, a cinta, a bengala – para que minha mente, pelo menos por um momento, pudesse ser preenchida com a ressonância da voz e seu elogio impressionante e rapsódico”. Tradução livre de: “I wanted to shut out all impression of her illness — the stooped back , the brace , the cane — so that my mind , for a moment at least , might be filled with the resonance of the voice and its awesome , rhapsodic praise.” (“A Tidewater Morning: Three Tales from Youth”, William Styron, 2010, p. 106)
[xxxi] “Acho que devia ter cerca de treze anos. Eu escrevi uma imitação de Conrad, ‘Typhoon and the Tor Bay’, era chamado, você sabe, um porão de navio fervilhando de Chinks malucos. Acho que também tinha tubarões lá. Eu dei o tratamento completo.”. Tradução livre de: “I figure I must have been about thirteen. I wrote an imitation Conrad thing, ‘Typhoon and the Tor Bay’ it was called, you know, a ship’s hold swarming with crazy Chinks. I think I had some sharks in there too. I gave it the full treatment.” (“The Paris Review: William Styron, The Art of Fiction No. 5”, Peter Matthiessen e George Plimpton, 1954) [xxxii] “A pobreza das formações imaginárias nos depressivos deve-se em parte, ao recalque da memória de episódios dolorosos, que torna o luto tão impossível quanto interminável. (…) É quando um cheiro familiar, um fragmento de uma canção, uma mudança climática despertam a reminiscência dos mortos queridos.” (“O tempo e o cão”, Maria Rita Kehl, 2015, p. 15)
[xxxiii] “Tivemos alguns momentos felizes em nossa casa. Tempos tristes, mas também tempos felizes. Você tem que se lembrar dos tempos felizes, baby.”. Tradução livre de: “We done had some happy times in this house. Sad times but happy times too. You got to remember de happy times, baby.” (“A Tidewater Morning: Three Tales from Youth”, William Styron, 2010, p. 96)
[xxxiv] “Ela havia trabalhado para nós como cozinheira e empregada doméstica por sete ou oito anos.”. Tradução livre de: “She had worked for us as cook and maid for seven or eight years.” (“A Tidewater Morning: Three Tales from Youth”, William Styron, 2010, p. 96)
[xxxv] “Gavin: Qualquer opinião hoje em dia sobre Nat Turner? William: Sabe, vou ser muito franco com você, como tenho sido. É uma grande dor sentir que escrevi uma obra que, pelos motivos errados, não apenas alienou, mas enfureceu totalmente as pessoas, quando não deveria.”. Tradução livre de: “Gavin: Any thoughts nowadays on Nat Turner? William: You know, I'll be quite frank with you, as I have been. It's been a huge pain to have felt that I'd written a work which for the wrong reasons not only alienated but absolutely enraged people, when it should not have.” (“Looking Back: A Conversation with William Styron”, Gavin Cologne-Brookes and William Styron, 2009, p. 508)
[xxxvi] “Sob efeito da medicação, o sujeito não se indispõe contra si mesmo nem interroga as razões de seu mal-estar: vai pelo caminho mais curto, que consiste em tornar-se objeto do seu remédio.” (“O tempo e o cão”, Maria Rita Kehl, 2015, p. 219)
[xxxvii] “Alguns anos depois que Styron se recuperou de seu primeiro colapso, seu filho, Thomas, então com cerca de 30 anos, caiu em uma depressão profunda. Ele estava entre a faculdade e a pós-graduação. ‘Eu trabalhava para uma organização sem fins lucrativos que ajudava os sem-teto e estava ocupado tentando salvar muitas almas. No final, o que realmente me ajudou foi muita psicoterapia e tempo’, diz ele.”. Tradução livre de: “A few years after Styron recovered from his first breakdown, his son, Thomas, then about 30, fell into a deep depression of his own. He was between college and graduate school. ‘I was working for a non-profit that helped the homeless, and I was busy trying to save lots of souls. In the end, what really helped me was lots of psychotherapy and time,’ he says.” (“Mad in America: William Styron: His Struggles with Psychiatry and Its Pills”, Joshua Kendall, 2019)
[xxxviii] Tradução livre de: “I hope that readers of ʻDarkness Visible’ — past, present and future — will not be discouraged by the manner of my dying. The battle I waged against this vile disease in 1985 was a successful one that brought me 15 years of contented life, but the illness finally won the war. Everyone must keep up the struggle, for it is always likely that you will win the battle and nearly a certainty you will win the war. To all of you, sufferers and non-sufferers alike, I send my abiding love.” (“The New York Times: Styron Visible”, Blake Bailey, 2013). Na sua última crise depressiva, Styron chegou a redigir este texto como uma possível carta de despedida, a ser utilizada no caso de cometer suicídio. Seu livro tinha sido um grande sucesso editorial e havia inspirado a recuperação de pessoas fragilizadas pela depressão, o autor se sentia de alguma forma responsável por elas e temia as possíveis consequências de seu potencial suicídio, daí sua preocupação.
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